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Vinhos de Abadia e Monastério: a Tradição Milenar dos Monges

A Itália, conhecida por sua rica herança cultural e histórica, é também o berço

A Itália, conhecida por sua rica herança cultural e histórica, é também o berço de uma tradição vinícola secular. Entre os capítulos mais fascinantes dessa história, destacam-se os vinhos produzidos em abadias e monastérios. Esses locais sagrados, muitas vezes situados em paisagens deslumbrantes, não só abrigam práticas espirituais, mas também guardam técnicas vitivinícolas ancestrais. A produção de vinhos pelos monges na Itália e o fenômeno das vinícolas particulares que cultivam vinhedos em antigas propriedades monásticas ajudam a manter viva essa tradição.

A produção de vinhos em abadias e monastérios italianos remonta a séculos. Monges beneditinos, cistercienses e outras ordens religiosas desempenharam um papel crucial na preservação e desenvolvimento da viticultura durante a Idade Média. Eles cultivavam vinhedos, produziam vinhos para uso litúrgico e medicinal, e frequentemente vendiam o excedente para financiar suas comunidades e obras de caridade.

Com o tempo, muitas propriedades monásticas foram secularizadas ou adquiridas por vinícolas particulares, que continuam a tradição vinícola nesses locais históricos. Esses empreendimentos mantêm a essência da produção original, enquanto modernizam as técnicas e expandem o alcance dos vinhos.

Na Itália, é tradição promover feiras para exaltar essa herança, como é o caso do evento “Vini d’Abbazia” (Vinhos de Abadia), realizado na Abazzia de Fossanova, em Priverno, a apenas uma hora de trem da capital Roma, entre os dias 09 e 11 de junho. O evento contou com a presença de vinícolas e abadias da região de Lazio e de outras partes da Italia, além de participantes da França e da Geórgia.

Feira Vini d’Abbazia, na Itália. Crédito: Cynthia Malacarne.

Interessante observar as tradições que envolvem esses eventos, como a bênção da feira pelo monge da abadia. Durante a cerimônia, uma prece abençoa os vinhos, os produtores e a feira. O monge mencionou o milagre de Jesus ao transformar água em vinho, ressaltando que “sem vinho não há missa”.

Abbazia di Fossanova, uma abadia cisterciense do século XII, é um excelente exemplo de arquitetura gótica na Itália. Além de sua importância histórica e espiritual, a área ao redor da abadia é conhecida por vinhedos que produzem vinhos tintos robustos e complexos. As principais variedades de uvas da região do Lazio são: Cesanese (tinta); Bellone e Malvasia Puntinata (brancas).

Feira Vini d’Abbazia, na Itália. Crédito: Divulgação.

Também marcaram presença a abadia Castello di Magione, localizada na região de Siena e patrimônio protegido pela Unesco. Ali, os monges beneditinos produzem vinhos tinto, rosés e vinsanto, tendo a Sangiovese como principal variedade de uva cultivada. A abadia está aberta à visitação pública, com degustações de vinhos que devem ser agendadas com antecedência. O monge do Castello di Magione, junto ao enólogo, apresentoud seus vinhos em uma masterclass.

Monge da abadia Castello di Magione, junto com o enólogo, ministram Masterclassa durante Feira Vini d’Abbazia, na Itália. Crédito: Cynthia Malacarne.

Feira Vini d’Abbazia, na Itália. Crédito: Divulgação.

O Monastério Cistercense do Santo Gervasio e Protasio, localizado em Belluno, Trento, participou do evento com seu espumante. Fundada em 1142 e localizada no Tirol do Sul, Alto Adige, a Abbazia di Novacella (Abadia de Novacella) é uma das mais antigas da Itália ainda em operação. Esteve presente na  feira como seus famosos vinhos brancos, das variedades Sylvaner e Gewürztraminer, renomados pela sua qualidade.

Além das abadias e mosteiros, estiveram presentes ao “Vini d’Abbazia” vinícolas que possuem vinhedos ou adega em territórios que antes pertenciam a monastérios ou abadias, como Donato Giangirolani, Casale dl Giglio, Feudi Di San Gregorio, Cantina Sant’Andrea, Cantina Valle Isarco, Monastero di Sabiona, Vini I Pàmpini, Cinccinato Vini, Marco Carpineti, Azienda Agricola Arnaldo Caprai, Azienda Agricola Pietra Pinta, dentre outros.

A Influência dos Monges na Viticultura Moderna

Os monges não apenas preservaram e aperfeiçoaram as técnicas de cultivo de uvas e produção de vinho, mas também influenciaram a cultura e a economia vitivinícola da Itália. Seus métodos de agricultura sustentável, respeito pelo terroir e compromisso com a qualidade continuam a inspirar vinicultores modernos.

Os vinhos produzidos em abadias e monastérios, bem como aqueles provenientes de vinícolas particulares situadas em antigas propriedades monásticas, são testemunhos vivos de uma tradição milenar que combina espiritualidade e excelência vinícola. A Itália, com sua rica herança religiosa e cultural, oferece uma experiência única para os amantes do vinho que buscam uma conexão profunda com a história e a autenticidade.

Explorar esses vinhos é não apenas uma viagem sensorial, mas também uma imersão na história, cultura e espiritualidade que moldaram a viticultura italiana ao longo dos séculos. Que cada taça seja um convite para descobrir mais sobre o legado dos monges e a paixão dos vinicultores que continuam a plantar nessas terras sagradas.
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