A história do espumante Franciacorta começa na Lombardia, mais precisamente na província de Brescia, onde Guido Berlucchi e Franco Ziliani deram vida a um projeto que transformaria a vinicultura italiana. Em 1961, inspirando-se nos métodos tradicionais de produção de champanhe na França, Zilani aplicou técnicas semelhantes para criar o primeiro Franciacorta, um espumante de alta qualidade na Itália. O sucesso inicial pavimentou o caminho para o reconhecimento da Franciacorta como uma das principais regiões produtoras de espumantes do mundo, culminando na criação da denominação Franciacorta DOCG (Denominação de Origem Controlada e Garantida). A vinícola Guido Berlucchi é frequentemente mencionada como a pioneira no desenvolvimento e na popularização do Franciacorta.
Durante o último Vinitaly, em Verona, conversei com Cristina Franzini, responsável pelo marketing da vinícola Berlucchi. Questionada sobre o legado de Franco e Guido, Cristina ressaltou a importância dos pais da Franciacorta não apenas para a Berlucchi, mas para toda a região. Segundo ela, os pioneiros da Franciacorta estabeleceram um método de produção que permanece inalterado dentro da adega, direcionado para a criação de uma linha de espumantes focada na qualidade em vez da quantidade. Segundo Cristina, a grande contribuição de Ziliani e Berlucchi foi justamente elevar o padrão de excelência ao aplicar o método clássico com um rigor que prioriza a qualidade em cada etapa.
Outro marco significativo na história da Franciacorta foi a criação da denominação de origem, que consolidou a região como referência mundial em espumantes. Em 1995, Franciacorta recebeu a classificação de DOCG (Denominação de Origem Controlada e Garantida), a mais alta certificação para vinhos na Itália. Essa denominação representa um reconhecimento oficial da qualidade e das características únicas dos espumantes produzidos na região.A DOCG não apenas assegura a proteção e a promoção da qualidade do espumante Franciacorta, elaborado exclusivamente com uvas cultivadas nas região delimitada, mas também reforça o compromisso dos produtores em manter as tradições, seguindo métodos rigorosos de vinificação e técncias tradicionais como fermentação secundária em garrafa, que confere ao Franciacorta seu caráter distinto e de alta qualidade.
Franciacorta. Crédito: Cynthia Malacarne
Esse status também ajudou a promover o Franciacorta no cenário internacional, elevando sua reputação e aumentando a demanda global por esse espumante de prestígio. A denominação DOCG é um símbolo de excelência e um reflexo do compromisso da vinícola Guido Berlucchi e de outros produtores da região com a qualidade e a tradição.
Uma grande curiosidade é a origem do nome Franciacorta. Franzini explicou que ele remonta ao período medieval, quando a região foi colonizada pelos Monges Beneditinos. Na época, Franciacorta era uma zona pantanosa e de difícil cultivo. Os monges solicitaram à Igreja que área fosse bonificada, ou seja, que recebesse um incentivo financeiro para a drenagem do terreno. Com a concessão dos recursos, os monges fundaram sua corte, batizada em latim de “Francae Curtes.” Inicialmente, em italiano, passou a ser chamada de Corti Franche, até chegar ao nome que hoje conhecemos: Franciacorta.
Assim, o nome surgiu no período medieval, mas hoje falamos de Franciacorta como um território, um método e um vinho que representam o auge da excelência italiana na produção de espumantes. O território é originado nesse período medieval, enquanto o método de produção e o vinho foram desenvolvidos a partir de 1961. O território do espumante é delimitado em 19 municípios, que pertenciam a essa “corte” dos monges, e foram reunidos sob o nome Franciacorta.
Perguntei à Cristina sobre as recentes inovações na Berlucchi. Ela destacou que, no final dos anos 90 e início dos anos 2000, os filhos de Ziliani – Cristina, Arturo e Paulo – assumiram a direção da vinícola e decidiram criar uma linha premium de espumantes, utilizando a melhor parcela do vinhedo, conhecidas como “crus” pelos franceses.
No último ano, a Guido Berlucchi ampliou seu mercado, mirando novos mercados além da Itália. Entre os mercados-alvo estão países das Américas, tanto do Norte, Central e do Sul, com especial interesse pelo Brasil, onde a vinícola vê um grande potencial para seus produtos.