A montagem, que cumpre temporada no Teatro da CAIXA Cultural Brasília de 5 a 14 de setembro, reúne Chico Pelúcio, Flávia Pyramo, Lenine Martins, Miwa Yanagizawa, Pedro Brício, Ronaldo Fraga e Cao Guimarães. A imagem de Nastácia Filíppovna é a representação mais pungente da luta de uma mulher contra a afronta à sua dignidade.
Órfã desde a infância, Nastácia foi criada por um oligarca que a transformara em concubina aos 12 anos de idade. Uma mulher forte e de beleza estonteante, se vinga da sociedade patriarcal que acredita que o poder e o dinheiro são absolvição para a prática de abusos, humilhações, violência física e moral contra as mulheres. Nastácia termina morta em uma cama, com uma facada debaixo do seio esquerdo.
Com direção de Miwa Yanagizawa e dramaturgia de Pedro Brício, a montagem une teatro e videoarte para contar a história de uma das mais instigantes personagens femininas da literatura universal. Para Flávia Pyramo, idealizadora do projeto e intérprete de Nastácia, a personagem é um exemplo de coragem e resiliência, uma mulher que fez da própria vulnerabilidade a sua força, lutando por dignidade mesmo sob uma violência terrível. “Interpretar Nastácia é conviver com um coração disparado e olhos alagados. Toda vez que sou atravessada pelo pensamento de reencontrá-la, uma alegria extasiante vibra em todo canto do meu corpo, porque eu a amo; mas junto vem a dor de um estômago apertado, pois sei que contarei essa história olhando nos olhos de muitas protagonistas dessa tragédia real que é a violência contra as mulheres”, afirma.
Nastácia fez estreia em agosto de 2019, em Belo Horizonte, com apresentações também no Rio de Janeiro, conquistando o Prêmio Shell (RJ) de Melhor Direção, o Prêmio APTR de Melhor Direção e o Prêmio APTR de Melhor Cenário, além de 34 indicações aos principais prêmios do país. Em recente temporada no Festival Off Avignon 2025, na França, edição em que o Brasil foi o país convidado de honra, Nastácia foi escolhida como uma das peças favoritas (Coups de Coeur), pelo Jornal Le Dauphiné Liberé, descrita como “Uma epopeia brilhante”, segundo o jornal La Terrasse.
Os artistas por trás de Nastácia são um destaque à parte. O atual elenco é formado por Chico Pelúcio (Totski), Flávia Pyramo (Nastácia) e Lenine Martins (Gánia). A consultoria teórica é de Paulo Bezerra, principal tradutor da obra de Dostoiévksi para o português, e Flávio Ricardo Vassoler; a direção de arte (cenário e figurino) é de Ronaldo Fraga; videoarte de Cao Guimarães; luz de Chico Pelúcio e Rodrigo Marçal; trilha sonora de Gabriel Lisboa; e direção de movimento de Tuca Pinheiro.
A narrativa
A peça se passa no apartamento de Nastácia, na noite do seu aniversário. Ela deve anunciar seu casamento com Gánia, união articulada pelo oligarca Totski, homem que transformou Nastácia em concubina desde a adolescência e a submete a um verdadeiro leilão naquela noite. “A escolha da festa do seu aniversário, como recorte, se deu pela importância deste momento, momento em que ela enfrenta seu algoz e toda a sociedade, e trata a todos e ao dinheiro com o mais altivo desdém e repulsa.”, conta Flávia.
Para Pedro Brício, repulsa e atração são forças conflitantes nos três personagens. “Na festa, além deles, há outros convidados que não vemos, estão subtraídos na encenação, são apenas mencionados. São aparências e ausências”, diz. Na dramaturgia, os três personagens do texto contracenam e, também, monologam sobre suas estórias. A festa não acontece de maneira cronológica. “O passado irrompe de repente e toma conta da cena. A força do que acontece está ali. Entendemos claramente a estória; a potência do drama dos personagens é o que arrebata, por ser tão vertiginoso e por se transformar de uma hora para outra diante dos nossos olhos.”
Passado e presente
Concebido entre 1867 e 1869, “O Idiota” está longe de ser anacrônico. A pesquisa “Elas vivem”, desenvolvida pela Rede de Observatórios de Segurança, levantou dados sobre a violência contra mulheres em 2024, indicando que a cada 24 horas, 11 mulheres foram vítimas desse tipo de violência no Brasil. Ao todo, foram 4.181 vítimas registradas em 2024, um aumento de 12,4% em relação a 2023.
Para a diretora, Miwa Yanagizawa, a arte é um espaço em que o artista pode, como mediador, reumanizar estatísticas devastadoras como essas. “Às vezes, os números são terríveis. São séculos de opressão e crueldade contra as mulheres e, muitas vezes, acho que não nos vemos responsáveis pela manutenção de tais tragédias. Tomamos distância como se elas pertencessem a um outro universo. Então, lemos os números e seguimos nossas vidas repetindo gestos que alimentam a irracionalidade e a negligência com os outros, mas, ‘sem perceber’, estamos colaborando com o crescente e alarmante número da violência contra a mulher, por exemplo.”
“A história de Nastácia, como tudo em Dostoiévski, é de uma espantosa atualidade”, sublinha Paulo Bezerra. Primeiro ela é vítima de um grão-senhor e gentleman pedófilo, que se vale do estado de miséria dela e do dinheiro que possui e a transforma em concubina aos doze anos de idade, sem sofrer qualquer censura da sociedade. Depois, já adulta, é vítima de um amante paranoico, que, por não conseguir conquistar seu amor, simplesmente a mata. Portanto, duas formas de crime contra a mulher: o crime alicerçado no dinheiro e o crime derivado da impossibilidade de conquistar o coração e a mente da mulher.
Oficina gratuita
Ministrada por Flávia Pyramo, a oficina Experimento Criativo Coletivo, na CAIXA Cultural Brasília, oferece aos participantes uma vivência do processo criativo coletivo que originou o espetáculo “Nastácia”. Com duração de 4 horas, o workshop, programado para dia 9/9 (terça-feira), a partir das 14h, utiliza improvisações cênicas direcionadas para estimular a criação individual dentro do coletivo, promovendo o desenvolvimento artístico-cultural. Destina-se a atores e não-atores acima de 16 anos, sem restrições de perfil socioeconômico, e a seleção é feita mediante inscrição online pelo site: https://www.caixacultural.gov.br/Paginas/Brasilia.aspx.
Instalação de Ronaldo Fraga
Reconhecido estilista mineiro, Ronaldo Fraga assina a cenografia do espetáculo que é uma verdadeira instalação artística. Indicada como melhor cenário em cinco importantes premiações para Teatro, a obra – Nastácia no salão de Dresden – fica em exposição para fruição do público ao longo da temporada, com visitas orientadas gratuitas às 11h e às 15h. Compondo a instalação, cinco videoartes assinadas por Cao Guimarães são exibidas em looping num televisor do cenário.
Serviço
[teatro] Nastácia
Local: CAIXA Cultural Brasília
Endereço: SBS – Quadra 4 – Lotes 3/4
Datas: de 5 a 14 de setembro
Horários: de terça a sexta, às 20h, sábado (6), às 20h, sábado (13), às 17h e às 20h, e domingo, às 19h.
Acessibilidade: sessão de sábado, 13 de setembro, às 17h, com intérprete de Libras
Ingressos: R$ 15 (meia para clientes CAIXA e casos previstos em lei) e R$ 30 (inteira). As vendas abrem dia 30/8, a partir das 9h, na bilheteria do teatro e, às 13h, no site Bilheteria Cultural
Lotação: 407 lugares
Duração: 1h40
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 16 anos
Estacionamento: gratuito aos finais de semana e feriados e de terça a sexta a partir das 18h
Mais informações no site da CAIXA Cultural
Acesso para pessoas com deficiência
[Oficina] Oficina Experimento Criativo Coletivo, com Flávia Pyramo
Data: 9 de setembro de 2025
Horário: das 14h às 18h
Vagas: limitada a 20 pessoas
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 16 anos
Ingressos: Entrada franca – mediantes inscrição no site da CAIXA Cultural
Fonte: Território Comunicação