Em meio a mesas cheias e celulares nas mãos, a fotógrafa e empresária Samantha Hewsen percebeu que algo havia mudado na vida noturna de Brasília: as pessoas continuavam indo aos bares, mas já não se paqueravam. A constatação deu origem ao Catálogo dos Solteiros, iniciativa que promove encontros presenciais sem uso de aplicativos e que vem ganhando adesão crescente no Distrito Federal ao apostar no contato olho no olho e na espontaneidade.
A ideia surgiu durante o trabalho de Samantha vendendo fotografias impressas em formato polaroid nos bares da capital. Nas abordagens, os pedidos se repetiam: entregar bilhetes improvisados, levar recados escritos em guardanapos ou descobrir se alguém na mesa ao lado estava solteiro. Segundo ela, até os mais extrovertidos demonstravam dificuldade em iniciar uma conversa. A demanda, percebeu, não era pontual.
Criado como uma brincadeira, o projeto rapidamente se estruturou como negócio e passou a circular semanalmente por diferentes bares do DF. O funcionamento é simples e presencial. Samantha aborda as mesas, pergunta quem está solteiro e, com a concordância do participante, faz a foto e imprime duas cópias. Uma vai para o catálogo, onde a pessoa registra nome, orientação sexual e contato. A outra vira um ímã de geladeira entregue como lembrança. Quem se interessa por algum perfil pode fotografar o cartão e enviar mensagem diretamente. A taxa de participação é de R$ 20.
A criadora define o catálogo como um híbrido entre aplicativo de namoro e correio elegante. A proposta mistura o charme da paquera tradicional com a agilidade contemporânea, em um formato que, segundo ela, dialoga com diferentes gerações. “O date é hoje. Todo mundo está no mesmo ambiente, só falta achar o match”, costuma avisar ao público.
Os bares são escolhidos ao longo da semana, sem agenda fixa. Samantha prioriza indicações de clientes e busca testar públicos variados, em diferentes regiões e faixas etárias. A reação, afirma, costuma ser leve e descontraída. A placa anunciando o Catálogo dos Solteiros chama atenção à distância, e as abordagens geram risos e curiosidade. Enquanto as fotos são impressas, os participantes folheiam o catálogo, o que evita espera e estimula a interação.
O perfil dos participantes varia a cada noite. Há dias com predominância feminina, outros com mais homens ou maior presença de pessoas LGBTQIA+. Grupos de amigos tendem a participar mais, muitas vezes incentivando — ou financiando — a inscrição de alguém solteiro da mesa. Pessoas tímidas também têm aderido com frequência, ao lado dos mais extrovertidos, que entram “pela resenha”. A faixa etária acima dos 30 anos, segundo a criadora, tem sido majoritária.
Embora ainda seja cedo para contabilizar casamentos, algumas histórias já marcaram o projeto. Uma delas foi a participação de uma mulher com mais de 70 anos, que se arrumou, passou batom e pediu opinião sobre o cabelo antes da foto. Para Samantha, a cena reforçou a ideia de que o desejo de se conectar não tem idade. Para ela, um match bem-sucedido não depende necessariamente de beijo ou encontro imediato, mas da troca, da conversa e da possibilidade de criar vínculos.
O Catálogo dos Solteiros nasceu já com vocação comercial, mas ganhou projeção após viralizar nas redes sociais. O perfil do projeto soma pouco mais de dois mil seguidores e divulga os locais das próximas edições. Com o aumento da demanda, Samantha passou a investir em comunicação digital e já foi contratada para eventos privados. Entre os planos, está levar o formato para casamentos, promovendo encontros entre convidados, além de estudar a expansão por meio de franquias para outras cidades.
A fase profissional também representa um recomeço pessoal. Casada, mãe de duas crianças e design de interiores, Samantha estava afastada do mercado formal e sentia os efeitos da sobrecarga da rotina doméstica e acadêmica. A transformação do trabalho em um serviço móvel, com autonomia de horários, trouxe independência financeira e recuperação da autoestima. Sem planejar, ela se tornou conhecida como a “cupida de Brasília”.
Para a empresária, o sucesso do catálogo reflete uma saturação das relações mediadas por aplicativos. Segundo ela, as redes sociais criaram uma falsa sensação de conexão, enquanto o contato presencial foi sendo perdido. A retomada da paquera analógica, avalia, acompanha uma tendência mais ampla de valorização do vintage e do afeto. “Brasília tem, sim, clima de paquera”, afirma. “E esse clima está voltando a esquentar.”
Serviço
Como funciona:
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Samantha escolhe o bar e divulga previamente o local no Instagram;
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Aborda as mesas e pergunta quem está solteiro;
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Tira e imprime fotos dos interessados;
Uma via vai para o catálogo (com nome, orientação sexual e contato) e a outra vira um ímã de lembrança;
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Participantes que se interessarem por alguém no catálogo podem tirar foto do cartão e enviar mensagem diretamente;
Taxa de participação: R$ 20 (valor por pessoa)
Contratação para eventos: o serviço também pode ser contratado para festas e encontros sociais.
Instagram: @captounacapital — perfil oficial para acompanhar próximas edições e novidades.
Texto por João Lucas Santana








