Ceias, reencontros e celebrações fazem das festas de fim de ano um período esperado por muitas pessoas. Para quem convive com doenças crônicas, como diabetes, hipertensão ou faz uso contínuo de medicamentos, porém, os excessos típicos dessa época podem representar riscos. A endocrinologista do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF), Tatiana Wanderley, indica cuidados essenciais para que todos possam aproveitar as festividades com tranquilidade e responsabilidade.
A especialista ressalta que o objetivo não é restringir, mas orientar escolhas seguras. “É totalmente possível curtir as festas, desde que a pessoa conheça suas necessidades e adote pequenos cuidados para evitar descompensações”, afirma.
A aposentada Rita Salviano, 73 anos, convive com diabetes há mais de 15 anos e sempre apreciou os pratos tradicionais do Natal. Em 2023, um episódio de mal-estar durante a ceia serviu de alerta. “Eu não sabia que certos pratos podiam aumentar a glicose tão rápido. Fiquei tonta, suando frio, cheguei a cair no chão e precisei ser atendida na UPA”, relembra.
Após o susto, Rita passou a seguir rigorosamente as orientações. “Hoje eu como de tudo, mas em quantidades pequenas. Também não saio sem tomar minhas medicações”, destaca.
“As ceias concentram carboidratos simples, doces e bebidas alcoólicas. Para o diabético, isso pode provocar picos glicêmicos importantes”
Tatiana Wanderley, endocrinologista
Casos como o dela são frequentes nesta época do ano. “As ceias concentram carboidratos simples, doces e bebidas alcoólicas. Para o diabético, isso pode provocar picos glicêmicos importantes”, explica Tatiana.
Composição do prato e cuidado com o álcool
Para quem tem diabetes, o primeiro passo é montar o prato com equilíbrio. Tatiana orienta iniciar a refeição com proteínas, para aumentar a saciedade, fracionar as porções de carboidratos e evitar repetir alimentos ricos em açúcar. “Combinar proteínas magras com legumes e verduras ajuda a reduzir o impacto do açúcar na glicemia”, detalha.
O consumo de álcool exige ainda mais cautela. “Não existe uma orientação de consumo seguro. O ideal é reduzir ao máximo e alternar com água para reforçar a hidratação”, alerta.
Atenção ao sal escondido
Para quem tem hipertensão, pratos muito salgados são os maiores vilões. Embutidos, salames, calabresa, queijos curados, bacalhau mal dessalgado e carnes com tempero excessivo podem elevar rapidamente a pressão arterial.
“Alguns pratos parecem inofensivos, mas acumulam grandes quantidades de sal. Isso pode desencadear mal-estar e até crises hipertensivas”, orienta a endocrinologista.
Obesidade e síndrome metabólica
Pessoas com obesidade ou síndrome metabólica também devem redobrar os cuidados. Refeições muito calóricas podem causar desconfortos gastrointestinais, especialmente entre quem utiliza medicamentos injetáveis para controle de diabetes tipo 2 e perda de peso.
“O ideal é evitar transformar toda a semana em um ciclo de excessos, manter boa hidratação e reforçar a ingestão proteica antes das ceias”, recomenda.
Pacientes que utilizam anti-hipertensivos, ansiolíticos, diuréticos ou medicamentos para a tireoide precisam ter atenção redobrada. O álcool pode interagir com essas substâncias e causar reações adversas.
“Nenhum remédio deve ser interrompido para que a pessoa possa consumir bebidas alcoólicas”, reforça Tatiana.
Quedas e desidratação
Entre os idosos, a combinação de cansaço, privação de sono e álcool aumenta o risco de quedas e desidratação. “O ideal é hidratar-se bem, evitar beber em jejum e descansar antes das festas”, orienta.
Mesmo com cuidados, alguns sinais exigem busca imediata por atendimento
- Alterações glicêmicas persistentes
- Dor no peito, falta de ar ou palpitações
- Tontura intensa, desmaio ou confusão mental
- Vômitos repetidos, dor abdominal forte ou sinais de desidratação
- Inchaço repentino, dor de cabeça intensa ou visão borrada
“Se o paciente sentir que algo está diferente do habitual, é melhor procurar ajuda em uma Unidade Básica de Saúde ou Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Vale lembrar que os hospitais são destinados a casos mais complexos e de risco de vida, como suspeita de
infarto, AVC, traumas graves, sangramentos intensos, perda da consciência e reações alérgicas graves”, explica a endocrinologista.
*Com informações do IgesDF







