Fundado em 2015 por Léo Precioso — ex-jogador de futebol e ex-detento —, o Instituto Recomeçar tem mudado o rumo de centenas de vidas ao apostar na reinserção social e profissional de pessoas que passaram pelo sistema prisional. Com o lema de ser um “gerador de oportunidades”, o projeto se consolidou ao longo da última década como referência nacional no acolhimento e acompanhamento de egressos.
Atualmente, a iniciativa mantém quatro unidades no país: duas em São Paulo (Ferraz de Vasconcelos e São José do Rio Preto), uma em Recife (PE) e outra em Brasília. Esta última funciona desde 2021 em parceria com a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), onde já acolheu mais de 300 reeducandos.
Entre eles está Albert Alves, de 29 anos. Hoje prestando serviços na Novacap, ele destaca o impacto emocional do apoio recebido: “Depois que a gente sai de lá, a saúde mental fica frágil. Às vezes, só uma conversa aqui já ajuda muito. O suporte psicológico que o Recomeçar oferece faz toda a diferença.”
Outra trajetória inspiradora é a de Esdras Pereira, de 33 anos, morador de Sobradinho. Primeiro atendido pelo instituto na unidade da Novacap, ele retomou os estudos, restabeleceu os laços familiares e atualmente é supervisor de um restaurante em um shopping da Asa Norte. “Foi uma evolução que eu jamais poderia imaginar. Se eu posso, qualquer um pode, só depende de nós mesmos”, afirma.
Caminho para o recomeço
O processo de inclusão no Recomeçar começa com um cadastro voluntário, motivado por indicações ou ações de divulgação. Em seguida, o candidato participa de uma conversa inicial com um mentor social — alguém que também já passou pelo projeto e hoje atua como referência. “Não obrigamos ninguém a vir. Tudo aqui é voluntário, só chega quem realmente quer uma nova chance”, explica a assistente social Guiliana Sidrin, coordenadora da unidade de Brasília.
As atividades ocorrem às terças e quartas-feiras, em espaço cedido pela Novacap. Os encontros incluem escuta ativa, formação e orientação profissional. O curso de desenvolvimento pessoal e profissional tem duas etapas: a primeira trata do autoconhecimento e da construção de um projeto de vida; a segunda foca na inserção no mercado de trabalho, com elaboração de currículo e simulações de entrevista.
Ao fim, os participantes passam por um “Papo reto”, conduzido pelo mentor social. Nessa conversa, são abordados temas como responsabilidade, mudança e planos para o futuro. Após esse ciclo, os reeducandos podem ser encaminhados para programas como Encceja, EJA, bolsas de ensino superior ou cursos profissionalizantes em áreas como informática e alimentação, em parceria com IFB, Senai, Senac e outras instituições.
Parcerias que geram impacto
Além da Novacap, o Instituto Recomeçar conta com o apoio de empresas privadas que oferecem vagas e treinamentos, como Mania de Churrasco, Grupo Pereira (atacadista) e o Capital Moto Week. “Se dermos a eles ferramentas para gerar renda de forma digna, mostramos que existe outra saída. E quando acreditam nisso, o resultado vem”, afirma Guiliana. “Aqui eles descobrem que podem sonhar de novo, se ver de outra forma, retomar vínculos e escrever uma nova história.”
De ex-detento a líder social
Criador do projeto, Léo Precioso teve uma carreira promissora no futebol, com passagens por clubes como Corinthians e Palmeiras. Após abandonar os gramados, se envolveu com o crime e foi preso em 2008, onde passou sete anos. Na prisão, começou a planejar uma mudança de vida. Em liberdade, fundou o Instituto Recomeçar para transformar sua história em instrumento de mudança para outros.
Em 2025, o Recomeçar completa dez anos de atuação. Ao longo desse período, já foi reconhecido nacionalmente, como em 2023, ao conquistar o prêmio LED – Luz na Educação, da Fundação Roberto Marinho e da TV Globo. Entre os projetos de destaque da organização está a pizzaria Opportunità, que oferece capacitação e ajuda a financiar as atividades do instituto.
O exemplo de Léo e dos participantes do Recomeçar prova que, com apoio e oportunidades reais, é possível romper o ciclo da criminalidade e abrir espaço para um futuro diferente.
Com informações da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap)









