Jabutis e cágado apreendidos em operação policial recebem tratamento no Hospital da Fauna Silvestre

Doze jabutis e um cágado apreendidos em situação precária pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) estão em observação no Hospital e Centro de Reabilitação de Fauna Silvestre (Hfaus). Os animais chegaram ao equipamento no dia 26 de novembro, após serem resgatados em uma mansão no Park Way pela Delegacia de Repressão aos Crimes Contra Animais (DRCA), por meio da Operação Lex Animalia.

Os animais têm idades variadas e diferentes condições de saúde. Todos passaram por exames de sangue, raios-X e ultrassom, repetidos periodicamente para averiguar mudanças no quadro clínico. A maioria apresentou sinais de desidratação e diarreia, decorrente de alimentação inadequada, além de piramidismo, deformação do casco ocasionada por erros de manejo. Três jabutis estão com alteração pulmonar, com probabilidade de pneumonia.

No Hfaus, os animais passam por exames como raios-X e ultrassom | Fotos: Joel Rodrigues/Agência Brasília

O tratamento consiste na administração de antibióticos e dieta equilibrada, com legumes, frutas, verduras, folhosas e proteína animal. Após a reabilitação, os bichos serão enviados ao Centro de Triagem de Animais Silvestres do Distrito Federal (Cetas-DF) do Ibama, órgão responsável por garantir o retorno seguro da fauna silvestre ao habitat natural.

Coordenador do Hfaus, o biólogo Thiago Marques de Lima ressalta os riscos do manejo incorreto das espécies, que precisam de autorização para serem domesticadas. “Quando uma pessoa mantém um jabuti ou um cágado sem autorização, está cometendo uma irregularidade e também colocando em risco todo um ecossistema”, explica. “Cada espécie tem adaptações próprias ao seu bioma. Quando um animal é retirado do seu habitat e levado para outra região, pode transmitir doenças, competir com espécies nativas, cruzar de forma inadequada e gerar híbridos que não deveriam existir na natureza.”

“Ter um lugar para acolher e tratar esses animais que passaram pelas mãos do tráfico, que só visa o lucro às custas das nossas espécies nativas, é a certeza de que estamos cuidando corretamente da nossa fauna e reafirmando nosso compromisso com o Cerrado”

Rôney Nemer, presidente do Instituto Brasilia Ambiental

O presidente do Instituto Brasília Ambiental, Roney Nemer, salienta que o Hfaus é um pilar essencial para a preservação do bioma Cerrado. “Ter um lugar para acolher e tratar esses animais que passaram pelas mãos do tráfico, que só visa o lucro às custas das nossas espécies nativas, é a certeza de que estamos cuidando corretamente da nossa fauna e reafirmando nosso compromisso com o Cerrado. Ficamos felizes em representar uma nova chance na vida desses animais”, destaca.

Segundo o delegado-chefe da DRCA, Jônatas Silva, os jabutis e o cágado foram encontrados no quintal de uma mansão no Park Way, em uma área suja, sem alimentação ou água. “A Operação Lex Animalia é fruto de trabalho contínuo da DRCA no combate ao tráfico de animais e na repressão à exploração ilegal da fauna. As investigações seguem para a responsabilização de todos os envolvidos”, afirma.

Pioneirismo

O Hospital e Centro de Reabilitação de Fauna Silvestre, vinculado ao Instituto Brasília Ambiental e gerido pela Sociedade Paulista de Medicina Veterinária (SPMV), é o primeiro do país a oferecer um atendimento integrado com objetivo de devolver os bichos à natureza após o tratamento. A equipe multidisciplinar, formada por veterinários, biólogos e outros profissionais, cuida da saúde física, nutricional, comportamental e psicológica dos animais, com foco na reabilitação.

Desde a abertura, em fevereiro de 2024, até novembro deste ano, o Hfaus recebeu mais de 4,2 mil aves, mamíferos e répteis. As cidades com mais resgates e encaminhamentos foram Plano Piloto, Lago Sul, Taguatinga, Candangolândia e Lago Norte. As espécies mais recorrentes foram saruê, periquito-de-encontro-amarelo, sagui-de-tufos-pretos e coruja-buraqueira. As principais causas de entrada foram cuidados neonatais (assistência a filhotes e jovens) e lesões ou fraturas.

Thiago Marques de Lima: “Quando uma pessoa mantém um jabuti ou um cágado sem autorização, está cometendo uma irregularidade e também colocando em risco todo um ecossistema”

Neste ano, o Hfaus recebeu mais de 2,2 mil animais, com mais resgates no Plano Piloto, Taguatinga, Candangolândia, Sobradinho e Lago Norte. A lista de espécies mais frequentes segue a mesma do ano anterior. O mesmo vale para as principais causas de entrada: cuidados neonatais (assistência a filhotes e jovens) e lesões ou fraturas. Até o momento, os meses de setembro e outubro tiveram maior quantidade de animais atendidos, com 363 e 521, respectivamente.

 

Com funcionamento 24 horas, o Hfaus tem estrutura pensada para respeitar o comportamento natural das espécies, com divisão de grupos (mamíferos, répteis e aves) e alas que evitam o estresse causado pela proximidade entre presas e predadores. São recebidas vítimas de atropelamentos, queimadas, tráfico e outros acidentes.

Em caso de avistamento ou resgate de animal silvestre, a orientação é nunca intervir diretamente. O ideal é acionar o Batalhão Ambiental da Polícia Militar pelo número 190 e o Corpo de Bombeiros Militar do DF pelo número 193.

A Delegacia de Repressão aos Crimes contra os Animais (DRCA) também pode ser comunicada por meio da Ouvidoria do GDF, pelo site ou pelo telefone 162, ou diretamente com a PCDF, no telefone 197, pelo e-mail denuncia197@pcdf.df.gov.br e pelo Whatsapp 61 98626-1197. Criada em agosto de 2023, é a primeira unidade policial do Brasil dedicada à investigação de casos relacionados à fauna e à flora.
 

Agencia Brasília

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