Livro reúne receitas e memórias de familiares de pessoas desaparecidas

Cada receita guarda um cheiro, uma lembrança e uma ausência. Nesta sexta-feira (29), das 9h às 10h, na Universidade de...


Cada receita guarda um cheiro, uma lembrança e uma ausência. Nesta sexta-feira (29), das 9h às 10h, na Universidade de Brasília (UnB), em Brasília (DF), o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) promove o lançamento do livro Sabor da Saudade — uma coletânea com 40 receitas de familiares de pessoas desaparecidas, que transforma a dor da ausência em memória afetiva e a cozinha em um espaço de memória e homenagem.

A iniciativa é do Movimento Nacional de Familiares de Pessoas Desaparecidas, com apoio do CICV, e busca dar visibilidade às necessidades contínuas dessas famílias, entre elas, a de não serem esquecidas.

O prefácio do livro (acesse aqui) é assinado por Marcelo Rubens Paiva, escritor, dramaturgo e filho do deputado Rubens Paiva, desaparecido em 1971. Ele viveu, desde muito jovem, a dor do desaparecimento do pai — experiência que marcou profundamente sua trajetória pessoal e literária. A família Paiva também contribui com uma receita especial no livro: sorvete napolitano, uma das sobremesas preferidas de Rubens Paiva e símbolo de uma memória afetiva que resiste ao tempo.

O lançamento ocorre às vésperas do Dia Internacional das Pessoas Desaparecidas, celebrado em 30 de agosto, e traz histórias como a de Maria Eugênia de Carvalho Silva, mãe de Getulio da Silva Junior, desaparecido há 11 anos. “Nos dias frios, ele chegava congelado. Ia direto pro banho enquanto eu preparava um copo de Nescau quente e um pão na frigideira. A última vez foi em 28 de novembro de 2014. Desde então, tomo meu Nescau sozinha”, relata. Como tantas outras mães, Maria Eugênia vive a angústia da espera – um sentimento como um livro que se lê, mas nunca chega à última página.

Promover a publicação faz parte do trabalho contínuo do Programa de Proteção de Vínculos Familiares do CICV, que desde 2013 desenvolvem ações de sensibilização sobre as consequências do desaparecimento para as famílias afetadas. Ao longo dos anos, o CICV tem abordado o tema por meio de exposições imersivas — como “A falta que você faz”, em Brasília, São Paulo e Fortaleza — e agora amplia esse esforço com uma combinação inédita de gastronomia, memória e afeto.

“Sabor da Saudade reconhece a força e a resiliência dessas famílias. Ao reunir receitas que atravessam gerações, a obra mantém vivas as lembranças de quem está ausente e dá visibilidade a uma dor que muitas vezes é silenciosa”, afirma o chefe da Delegação Regional do CICV para Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai, Nicolas Olivier. A versão digital do livro será disponibilizada gratuitamente no site da organização, junto a uma mini websérie que aprofunda a discussão sobre o desaparecimento no país.

Mais do que um livro com receitas, Sabor da Saudade é um espaço de memória coletiva, um tributo à ausência e uma celebração da persistência de milhares de famílias que lutam para manter viva a identidade de quem ainda não voltou. Porque cozinhar também é lembrar. Cada receita carrega consigo um momento, uma presença, um ritual quotidiano, um sabor que, de repente, se transformou em saudade. Um café coado antes do trabalho, um bolo assado enquanto se espera alguém, um prato favorito preparado para reviver o não vivido, um copo de achocolatado numa tarde fria.

Aqui, cada receita é mais do que um conjunto de ingredientes e instruções – é a lembrança de alguém amado, uma memória viva, preparada e compartilhada como um ato de amor.

O evento de lançamento ocorre em parceria com o Observatório de Desaparecimento de Pessoas no Brasil (ObDes), inaugurado em março de 2025. Na ocasião, será exibido o documentário “Desova” e também será lançado o livro “O Desaparecimento de Pessoas no Brasil”. 

Sobre o CICV

O CICV se empenha em sensibilizar sobre o desaparecimento de uma pessoa e o impacto e consequências para a sua família. Como uma organização humanitária neutra, independente e imparcial, O CICV trabalha em mais de 50 países nessa temática. No Brasil, há mais de uma década, o CICV se esforça para reconhecer e visibilizar as necessidades de familiares de pessoas desaparecidas.

Serviço

Data: 29 de agosto

Horário: 9h às 12h

Local: Auditório do Instituto de Ciências Sociais – Universidade de Brasília (UnB)

 

Fonte: Fabíola Góis – Assessora de Comunicação Sênior

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